sábado, 5 de julho de 2014

Cancro vs Suicídio

Ontem fui ao cinema ver "A culpa é das estrelas"(no spoilers). É lindo o filme e aconselho-vos seriamente a vê-lo. Eu já previa que não ia conseguir reter as lágrimas e eu NUNCA choro em público. Sinto que é um sinal de fraqueza, embora nos outros eu não o interprete da mesma forma.
Fui ver o filme com pessoas que eu sabia que me ia sentir especialmente mal. Podia ter simplesmente dito um "não", mas disse um "sim", do qual me arrependo imenso. Chorei à frente deles, não me consigo perdoar. E eu sei que vais pensar que tal como eu, imensa gente saíu a chorar. É verdade, mas ninguém mais tinha estas marcas nos braços. É como se naquele momento eu tivesse um rótulo de falhada, frágil.. Senti-me mal mesmo a andar no shopping. Olhava para baixo, nem conseguia enfrentar todos aqueles olhares dirigidos a mim (já me deparo com vários olhares, mas consigo aguentar-me. Ali sentia-me nua, exposta, não consegui mesmo).
O filme em si é emocionante, e como aborda o cancro na adolescência fez-me sentir revoltada. Porque existem imensos jovens pelo mundo que querem viver e estão condenados à morte por esta doença e eu e imensas outras pessoas, estamos condenados a viver, embora tudo o queriamos era morrer. Neste momento não o faço por causa do meu cão, por causa dos meus pais (que apesar de tudo lhes devo fazer lembrar da criança que eles gostavam) e, recentemente, por causa do meu namorado. Mas esse desejo de morrer ainda me persegue, simplesmente tento ignorá-lo e seguir em frente. O filme fez-me refletir sobre mim, trouxe-me flashbacks e foi esse o motivo que me levou a chorar e não a história em si. Tantas vezes cheguei a desejar ser atropelada ou ter cancro para que as pessoas que me rodeiam aceitassem de uma forma natural a minha morte.
E provavelmente estás a pensar que eu sou ingrata e eu própria já me senti mal com isso, porque já ouvi muitos comentários de "tanta gente a morrer com cancro e tu a tentares matar-te". Estes comentários ainda me faziam sentir pior, mas depois cheguei à conclusão que era exatamente igual àquilo que tantas vezes ouvimos em criança, de não deitar comida fora porque existem imensas crianças em àfrica a morrer. Sim devemos estar gratos por ter comida, mas se já estamos satisfeitos nao posso propriamente mandar-lhes os restos. Além de que se comer só me vai fazer mal à saúde.

E é tao, mas tão injusto haver pessoas com cancro a querer viver, sem poderem, assim como é tão mas tão injusto, haver pessoas a quererem morrer e a ter que viver porque os outros irão sofrer supostamente com a sua morte e mesmo depois de mortos irão ser condenados.
Neste momento até tenho andado bem e estou a tentar ser feliz, mas continuo a não ver o suicidio como uma coisa errada. E há tantas pessoas que estão a viver o que eu vivi ou pior. Porque não deixá-las ir? E se realmente houver pessoas que se preocupam, estejam lá com elas, porque morrer sozinho é dos piores sentimentos que há. E digo isto, porque existem imensas pessoas, que tal como eu, não pertencem aqui. E sim talvez mais tarde poderemos ser felizes, mas é uma longa viagem de sofrimento e solidão, e que a meu ver, as pessoas deviam ter a liberdade de não o percorrer.

1 comentário:

  1. Infelizmente nada ou quase nada é a preto e branco.
    Estive para ir ver o filme, mas desisti...Sinto falta de encontrar "aquele filme" no cinema..

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