Nos últimos dias andava mais animada do que o costume. Achava que realmente estava a ficar melhor. Mesmo cá em casa falava mais com a minha família porque estava determinada a dar-lhes boas memórias enquanto ainda estiver cá. Partilhei algumas coisas do que estava a fazer, falei sobre os exames e a universidade, porque eu acho que ao falar do futuro as pessoas esquecem que eu estou suicidal ou então pelo menos vão pensar que foi uma fase má e que já passou, que já caí em mim. Eu faço de tudo para que as pessoas pensem que eu estou bem, mesmo quando estou mal (daí me custar imenso ouvir comentários de que só faço as coisas que faço por atenção, quando o que eu realmente queria era desaparecer, ser invisível).
Hoje foi um daqueles dias em que estava super bem disposta mesmo, falei da universidade mas as coisas que dizia eram sentidas. Queria conhecer Lisboa, conhecer novas pessoas, viver na minha residência e a certa altura comecei a sentir-me extremamente culpada por ter partilhado coisas com a minha família, ainda que não pessoais, de certeza que não vão respeitar a minha privacidade e vão falar sobre o quão melhor eu estou e assim. Eu acho que isto me incomoda, porque eu só queria a minha vida de volta ao normal, onde se eu tivesse bem ou mal, não era notada. E comecei a sentir-me de tal forma culpada já não conseguia pensar noutra coisa, já não me apetecia desenhar, já não me apetecia fazer nada. Comecei a pensar em todas as coisas más que já me aconteceram e em tudo o que me arrependo. Ainda não me cortei, mas estou a tremer por todo o lado, a controlar-me para não chorar, porque sei que mais tarde me vou arrepender porque eu quero voltar para a natação, mas sinceramente não sei quanto mais tempo vou conseguir aguentar. Estava tão bem e de repente parece que estou no fundo do poço outra vez. Se tivesse numa ponte, saltaria de certeza. Nestes momentos nem o pensamento de o meu cão vir a sofrer as consequências me acalma (sou eu que tomo conta dele e tenho medo de como a minha família o poderia tratar se eu não tivesse aqui.). Neste momento sinto-me completamente ridícula, pensar que foi um simples cão que me impediu de por fim à minha vida anteriormente. Às vezes penso que ele foi a melhor coisa que já me aconteceu, que me deu forças para viver, outras acho que foi a pior, sinto-me responsável por ele e não consigo partir.Mesmo nos dias em que estou bem, tenho noção que se um camião estivesse a vir na minha direcção eu não me desviaria. Há dias em que eu desejo que aconteça, de modo a que eu não me sinta culpada e deste modo a minha família não se sentiria culpada também, iriam seguir em frente, todos seríamos felizes. Às vezes sinto que por ter uma mentalidade aberta seria capaz de tornar o mundo melhor, outras acho que não pertenço aqui, só quero morrer. Lembro-me tantas vezes da minha primeira tentativa, estava cheia de medo de morrer, agora nem isso tenho, porque mesmo que exista um Deus ou que eu vá para o Inferno ou whatever, eu não quero estar com um Deus que me causou tanto sofrimento, que nos julga, que nos amas "a menos que". Mesmo que haja vida depois da morte, estarei com pessoas que como eu, viemos por "engano". Eu tento fazer sempre os meus pais orgulhosos de mim, mas eu nunca voltarei a ser a criança que eu era, essa já morreu há muito, eu vejo fotos de mim mesma e não me reconheço, é como se estivesse a ver fotos de uma criança parecida comigo, mas aquela não sou eu.
O meu humor varia entre a mais pequena coisa me fazer feliz ou infeliz e é esta constante mudança entre estar completamente bem ou completamente mal que me deixa doida, como se eu não estivesse fora de controlo e me faz mais do que tudo querer desistir. Mesmo quando estou bem, estou sempre à espera de ficar mal. Quando me deixo levar pelos sentimentos positivos, a queda é maior. Não faço grandes planos para o futuro e mesmo quando estou feliz os planos mais longos que faço são cerca de 10 anos (tempo de vida restante do meu cão).
Para piorar ao jantar a minha mãe falou da segunda guerra mundial, de como o povo alemão era fraco e que a prova disso era um governador deles se ter suicidado, que não havia povo mais fraco. Insistem em dizer estas coisas às refeições à minha frente. Sinto-me magoada e estúpida me preocupar com eles..