Hoje fui à Igreja confessar-me. Não fui por vontade própria obviamente, fui por causa da minha mãe: nunca tive coragem de lhe contar que sou agnóstica, por um lado para evitar confusões, por outro porque tenho medo da reacção dela. Muitas vezes penso também, que pode haver alguma altura em que me sinta mais em baixo e que os meus pensamentos suicidas passem de apenas pensamentos a acções e ao menos assim vou poupá-la de mais um desgosto. No fundo acho que ela desconfia que eu não sou católica pelas minhas acções, mas continua a ignorar isso, nunca me pergunta e eu também não sou capaz de tocar no assunto e acho que ela também tem esperança que eu ainda acredite em Deus, que me arrependa do que fiz e que volte para o "caminho de Deus".
Na Igreja havia 2 padres: um estava no confessionário e o outro estava ao fundo da Igreja. A minha mãe foi ao segundo e como ela falou relativamente alto, eu ouvi partes. A minha mãe falou de mim quase a chorar a falar das minhas tentativas de suicídio, a dizer que não sabia o que fazer, que eu até andava a ser acompanhada por um psiquiatra. No fundo acho que a minha mãe gosta de mim (pelo menos da minha imagem de criança) e sei que ela se sente extremamente culpada, como se tivesse falhado na minha educação uma vez que o suicídio é um pecado e então ela não me conseguiu levar ao encontro de Deus. A verdade é que me senti extremamente mal lá dentro.
Depois chegou a minha vez e falei com o padre que se encontrava dentro do confessionário. Disse-lhe que não era crente e ele até foi simpático. Aceitou bem o que eu disse e falámos um bocado para passar o tempo. Falou-me bastante de Jesus (talvez achasse que eu acreditaria em Jesus ou lhe daria alguma importância). Elogiou -o bastante, contou várias histórias onde a sua bondade era evidente e depois do que eu tinha ouvido da minha mãe eu só pensava "Jesus (ou a imagem dele) foi uma boa pessoa em muitos aspectos, mas caramba eu também tenho virtudes mas aos olhos da minha família vou ser sempre condenada, nunca vou ser aceite". Foram estes pensamentos que no 10.º ano me fizeram querer afastar da Igreja e pensar que mesmo que algum Deus exista, ele nunca me iria aceitar como eu sou, assim como a minha família, e por isso teria de viver a minha vida como se Ele não existisse e eventualmente isso permitiu-me ser mais livre, sentir-me melhor comigo própria. Mas é nestas alturas do Natal e da Páscoa onde me é impossível ignorar a desilusão que eu sou para a minha mãe (já nem falo no meu pai, porque não temos uma relação pai-filha). Estou a chorar há 2 horas e nem sei bem porquê, tenho demasiados pensamentos na minha cabeça. Tenho que sair de casa por este motivo: nunca serei aceite na minha família, nunca passarei da filha pecadora e da irmã que é uma freak.
Depois chegou a minha vez e falei com o padre que se encontrava dentro do confessionário. Disse-lhe que não era crente e ele até foi simpático. Aceitou bem o que eu disse e falámos um bocado para passar o tempo. Falou-me bastante de Jesus (talvez achasse que eu acreditaria em Jesus ou lhe daria alguma importância). Elogiou -o bastante, contou várias histórias onde a sua bondade era evidente e depois do que eu tinha ouvido da minha mãe eu só pensava "Jesus (ou a imagem dele) foi uma boa pessoa em muitos aspectos, mas caramba eu também tenho virtudes mas aos olhos da minha família vou ser sempre condenada, nunca vou ser aceite". Foram estes pensamentos que no 10.º ano me fizeram querer afastar da Igreja e pensar que mesmo que algum Deus exista, ele nunca me iria aceitar como eu sou, assim como a minha família, e por isso teria de viver a minha vida como se Ele não existisse e eventualmente isso permitiu-me ser mais livre, sentir-me melhor comigo própria. Mas é nestas alturas do Natal e da Páscoa onde me é impossível ignorar a desilusão que eu sou para a minha mãe (já nem falo no meu pai, porque não temos uma relação pai-filha). Estou a chorar há 2 horas e nem sei bem porquê, tenho demasiados pensamentos na minha cabeça. Tenho que sair de casa por este motivo: nunca serei aceite na minha família, nunca passarei da filha pecadora e da irmã que é uma freak.
Para o ano vou estar em Lisboa e vai-me custar mais que tudo deixar o meu cão para trás, mas sei que se continuasse aqui não ia aguentar e já prevejo o que vai acontecer: nunca vou ter vontade de voltar para casa, porque de facto esta não é o meu lar, o sítio onde me sinto bem comigo mesma, onde posso ser autêntica. (Na verdade, deve ser o sítio onde eu finjo mais ser aquilo que não sou).
Provavelmente nunca irei conseguir falar com a minha mãe sobre este assunto, daqui a uns anos irei simplesmente sair de casa definitivamente. Mas o que eu gostaria de dizer à minha família era isto:
Tenho pena que nunca tenham visto mais além, nunca me tentassem conhecer, saber o que penso. Na vossa ideia até podia parecer que estavam a tentar, mas os comentários que vocês iam fazendo num simples jantar ou discussão dos assuntos do quotidiano sempre me fizeram sentir pequena, que eu não pertencia ali. Mas apesar da minha baixa auto estima eu tenho noção que não sou má pessoa: sempre tento ajudar os outros, tento pôr toda a gente feliz, mesmo quando estou extremamente mal, não sou preconceituosa e acho que isso é o essencial. Mesmo que tivesse uma religião diferente ou divergisse de vocês a nível de ideias, gostava mesmo que vocês tivessem simplesmente aceite a pessoa que eu era, me dessem espaço e liberdade de escolha, me respeitassem (tal como eu vos respeitei a vocês) e principalmente que não me julgassem. Não, não fui a filha/irmã perfeita, mas eu nunca irei ser motivo de orgulho para vocês, não vou mudar a minha maneira de ser e mãe, eu sei que o teu Deus considera por exemplo o suicídio um pecado e que à partida já estaria condenada, mas o que eu sempre quis é que tu me aceitasses tal como eu era, independentemente das minhas escolhas e não estivesses sempre a me tentar "curar", a tentar reencarnar em mim a pequena Izzie, perfeitinha como tu querias.
Deu-me um aperto ao ler este teu texto... expressaste-te tão bem que eu percebi exactamente a confusão que vai na tua mente :c e fico muito triste por a tua família não te aceitar. Mas acredita, a tua mãe gosta muito de ti, e ter-te levado ao padre é uma demonstração de amor. Não sou crente, como já te disse, mas fui educada segundo o catolicismo. Quando cresci, comecei a reflectir e vi os podres da igreja católica. Comecei a ler sobre o assunto na internet, a ler a bíblia, a abrir a porta a Testemunhas de Jeová. Procurei absorver o máximo de informação possível e conjuguei-a, criando a minha versão de Deus. Porque acho que todos estão certos desde que a pessoa se sinta bem com a sua crença. Agora não acredito em nada superior mas, felizmente, a minha família aceita.
ResponderEliminarTinha a tua idade e estava tão confusa como tu. Por isso achei melhor dizer-te estas palavras (desculpa o testamento!). Qualquer coisa, conta comigo :)
Eu percebo o que sentes, eu sou crente mas há certas coisas na igreja que me fazem confusão e felizmente consigo falar disso com a minha família. Sei que não deve ser fácil, mas se precisares de alo diz
ResponderEliminarMinha querida, para sermos felizes, temos que gostar de nós, e aceitar aquilo que somos, sem esconder de ninguém, seja qual for o motivo. Os teus pais amam-te. E irão perdoar qualquer coisa que tenhas feito, porque para além de serem teus pais, se seguem a religião católica, sabem que não é a eles que cabe julgar seja quem for, mas sim, a Deus, e Deus perdoa. (Não sou católica, nem crente, mas a minha família segue uma outra religião).
ResponderEliminarAprende a gostar de ti sem medos, e diz isso à tua mãe, ou escreve-lhe uma carta, se for mais fácil.
Podes contar comigo, para o que precisares. Um beijinho cheio de sorrisos
Querida Izzie ,
ResponderEliminarObrigada pelo teu comentário. Li o teu texto e não posso deixar de pensar na minha relação com a religião e o quanto descobri nos últimos tempos em relação à Igreja Católica Romana, à Ortodoxa, etc.
A religião é tantas coisas já reparaste? Pode ser a natureza, as pessoas, os sentimentos. Podes acreditar que a religião está dentro de ti ou fora. Quando rezo, faço para uma coisa abstracta, não para alguém.
Espero que no futuro te encontres e descubras a tua religião, e que esse encontro proporcione uma melhor relação com a tua mãe, com a tua vida.
Eu moro em Lisboa. Se algum dia te quiseres encontrar comigo e beber um café, estarei aqui para conversar. O mundo é melhor do que pensas, e as visões mudam. Força (: Um beijinho*
R: é mesmo muito antiquada. Já lhes apresentaste algum namorado?
ResponderEliminarPorque é que dizes que a tua família não te aceita nem te entende? De certeza que há bons momentos e lados bons, não? Tem que os haver, nem que sejam muito poucos, ao contares pelos dedos!
ResponderEliminarReparei que vinhas para Lisboa, eu estudo em Lisboa. Se algum dia precisares de alguma coisa é só dizeres. O mundo é gigante e há tantas coisas boas!
Muita força :)
Quanto ao meu texto, apenas desabafos em palavras. A Mi é uma querida e tu também o foste. Muito obrigada!
Não faz mal :) eheh
ResponderEliminarEu espero que um dia a tua família te consiga compreender querida :/
ResponderEliminarA minha família aceita-me porque desde pequena que bati o pé, mas há certas coisas em que os meus pais, a minha mãe principalmente, prefere ignorar. Por exemplo, se eu digo alguma coisa com a qual ela não concorda, ela simplesmente revira os olhos com cara de quem diz "um dia ganhas juízo". E é tão, tão frustrante.
ResponderEliminarA minha mãe, por exemplo, não aceita a minha posição em relação à religião (que é parecida ou senão mesmo igual à tua), simplesmente diz "um dia vais perceber". Mas perceber o quê? Ela tem a mentalidade de uma pessoa de 80 anos, para muitas coisas.
Portanto em parte eu compreendo-te. Suponho que a minha família me aceite mais que a tua a ti, mas em parte temos os mesmos problemas e percebo perfeitamente porque é que não dizes à tua mãe que és agnóstica. E já agora, não sabia que o suicídio era considerado pecado pela religião católica, o que com todo o respeito do mundo à religião, acho que é a coisa mais estúpida. Mas pronto.
Para o ano também vou para Lisboa e espero mesmo libertar-me de certas amarras, por muito que ame os meus pais. E espero que tu faças o mesmo, e possas recomeçar :)
Oh minha querida, estas palavras que vais escrevendo dão-me um aperto no peito por querer ajudar e não conseguir! Sabes, as ideias dos nossos pais são completamente diferentes das nossas, houve uma grande mudança e as gerações divergiram completamente, e há pais que não sabem aceitar isso. Mas eu acredito que tu conseguirás ultrapassar a desilusão dos teus pais e a tua baixa auto-estima e que um dia olharás para trás com tristeza, mas não com receio.
ResponderEliminarSe eu puder ajudar em alguma coisa, sabes bem, já me dispus e vou-me dispor sempre! E agarra-te ao que tens de melhor, aos pensamentos que te alegram, às coisas que gostas de fazer. Agarra-te a ti e agarra-te a nós. Tu vais conseguir!
Já voltei de viagem, muito obrigada !
ResponderEliminarAcreditas que me revejo perfeitamente neste teu post? Também estou a ser acompanhada por um psiquiatra e um psicólogo pelos meus pensamentos suicidas, falta de auto estima e ansiedade.
ResponderEliminarNão sou católica e estou a tentar converter-me em budista, religião que me tem ajudado mais que as consultas todas! É uma religião que se baseia no nosso bem interior.
Os meus pais também não suportam ouvir que não acredito em Deus, e também me avaliam como uma pecadora. Coisas atrás de coisas, quando estão mais chateados, discutem comigo e acabam por dizer coisas horrorosas acerta da minha maneira de ser, do facto de não estar bem e precisar de ajuda.
És a primeira pessoa que encontro que também passa por isto... Força, muita força e mentaliza-te que tudo isto irá melhorar, porque irá.. Acredita em mim. Beijinhos!
R: Fazes muito bem, até porque não deveremos seguir algo que não acreditamos!
ResponderEliminarEntendo que escrevas para desabafar, que escrevas o que não tens a quem dizer. E acho que fazes tão bem, acho que não deitar para fora o que nos magoe e nos atormenta nos pode fazer explodir. E tu precisas da serenidade que a vida pode oferecer, se escrevermos sobre o que nos faz mal e pensarmos unicamente no que nos faz bem. Eu vou estar sempre aqui, e é isso que quero que saibas, com toda a certeza do mundo! Quero que possas mudar o link do teu blog de "uma sombra sozinha" para "uma sombra acompanhada" e que te faças acompanhar de todos nós aqui para seres feliz! Estou aqui, digo mais uma vez! Estou aqui! <3
ResponderEliminarTambém sou agnóstica tal como tu mas a diferença é que a minha família é pouco, ou nada, ligada à religião católica. Ou seja, para eles pouca diferença faz se sou crente ou não. Ainda assim consigo compreender os teus pensamentos quando relacionando com as outras realidades da minha vida. A minha mãe nem sempre concorda com as minhas decisões mas como me faltam poucos anos para sair de casa acho que ela já desistiu. Acredita que te vai fazer bem saíres desse ambiente e vires estudar para longe de casa. Talvez assim a tua família te comece a dar o devido valor. Eu sou de Lisboa querida. Quando vieres se quiseres tomamos um café e apresento-te parte da cidade :) Acredita que não estarás sozinha ;)
ResponderEliminarr: Acertaste em tudo o que disseste! :) Quer dizer... o elemento chave não era a câmara fotográfica (na minha 1ª perspectiva) mas visto que as imagens têm várias interpretações essa pode ser uma delas :) Até porque eu adoro fotografar.
querida muita força, ando a ler o diário de Anne Frank e agora tu fizeste-me lembrar ela, de facto é muito difícil quando a nossa própria família nos vira as costas.
ResponderEliminarr. boa sorte para ti também, então :)
Oh queria força mesmo, percebo cd coisa que aqui disseste, sei como te sentes. Olha aqui em casa eu não tenho opinião, aqui à uns dias disse q nao era católica e discutiram logo cmg, eu sou sp aquela q oiço bocas em qqr jantar/almoço de família, eu sou aquela q sou posta de lado. Eu sigo a minha vida, se me custa? claro, não tenho a minha familia a apoiar-me, mas pronto é a vd, estou viva e tenho de lhes provar q sou melhor q eles todos juntos. mas claro tenho dias mt mt maus.
ResponderEliminarr. tens que ler o livro :) | mesmo fofa ela :)
ResponderEliminarA vida rege-se por valores e princípios e não é por não sentires a presença de Deus que deixas de ser uma boa pessoa. Eu nunca tive qualquer educação religiosa e tenho a certeza que os meus valores e princípios morais são muito mais apurados do que muita gente religiosa que anda por aí. Os pais por vezes podem ser cruéis mas amam-nos, quando estiveres longe vão com certeza dar pela tua falta. Por exemplo, a mim nunca me massacraram com a religião mas diariamente sou bombardeado com as histórias dos filhos dos outros(já me custou mais ouvir isso do que agora).Um dia irão certamente perceber que não são os filhos dos outros que estarão cá para cuidar deles quando forem velhinhos. Não te preocupes demasiado com estas coisas, distrai-te e tenta sonhar todos os dias com o futuro. Força. ;)
ResponderEliminarNão precisas de dizer nada querida! Fica só alegre e descobre-te a ti própria. Porque nós somos a nossa melhor companhia: e é contigo que te tens de sentir bem! E são as pequenas coisas que nos enchem de alegria: a música que oiço no teu blog deixa-me se sorriso nos lábios. Estas pequenas coisas são a nossa vida! Sê feliz!!
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